O VOTO FEMININO NO BRASIL - UMA BREVE HISTÓRIA DE CIDADANIA
O voto feminino no Brasil foi uma conquista obtida por meio do movimento sufragista ligado ao feminismo. Esse movimento exigia que as mulheres deveriam ter acesso à cidadania e participar da escolha dos representantes. No Brasil, o voto feminino só foi permitido no governo de Getúlio Vargas, por meio de um decreto do Código Eleitoral de 1932.
Movimento sufragista
A luta das mulheres por seus
direitos e pela equiparação dos gêneros ganhou força a partir do século XIX, e
um dos motes desse movimento era garantir a conquista de direitos
políticos para mulheres. Isso porque, nesse século, as mulheres não eram
enxergadas como cidadãs e, assim, ficavam excluídas de uma das formas de
exercício mais importantes desse direito: o voto eleitoral.
O movimento sufragista lutava
pelo direito das mulheres poderem votar. No Brasil esse movimento surgiu no
final do século XIX.
Além de não terem direito ao
voto, as mulheres ficavam excluídas da política, não podendo candidatar-se aos
cargos existentes. Foi somente por meio do engajamento das mulheres que o voto
tornou-se um direito garantido para elas. Essa luta aconteceu não somente no
Brasil, mas em todos os países ocidentais. A ação em defesa do voto
feminino ficou conhecida como movimento sufragista.
No final do século XIX, as
exigências pelo voto feminino começaram a ser debatidas no Brasil, seguindo uma
tendência do que acontecia em outros locais, como a Inglaterra. Como mencionado,
o fortalecimento do movimento feminista estava diretamente relacionado com o
avanço da causa sufragista.
Aqui o primeiro indicativo de
que a luta das mulheres pelo direito ao voto era permanente deu-se na década de
1880. No ano de 1881, os parlamentares brasileiros aprovaram uma lei que
promovia uma grande reforma no Sistema Eleitoral brasileiro. Conhecida
como Lei Saraiva, esse dispositivo não falava sobre o voto feminino, mas
continha uma brecha que permitia as mulheres exigirem seu registro
eleitoral.
Essa brecha era um artigo que
afirmava que todo brasileiro com título científico poderia votar.
Aproveitando-se desse texto, Isabel de Souza Mattos, uma
dentista de São José do Norte, cidade do Rio Grande do Sul, exigiu o registro
de eleitora em 1887. Ela o obteve e foi exercer o seu direito de voto pela
primeira vez em 1890, mas não conseguiu votar porque foi impedida pelo
presidente da mesa no local de votação. Para saber mais sobre esse importante
movimento por direitos políticos no Ocidente, leia: Movimento sufragista.
Crescimento do movimento
sufragista no Brasil
O engajamento feminino pelo
direito de votar ocupou espaços importantes, como a imprensa. No final do
século XIX, por exemplo, um jornal escrito por mulheres foi
criado no Rio de Janeiro com o nome de A Família. O foco das publicações
desse jornal eram artigos que fizessem a defesa do sufrágio feminino.
Durante o processo de
elaboração da Constituição de 1891, sufragistas procuraram garantir o
apoio de deputados da Constituinte para a causa do voto feminino. Essa
mobilização não deu resultado nesse momento, e a Constituição de 1891 foi
promulgada sem abordar a questão do voto feminino.
Já no século XX, uma nova
forma de atuação foi manifestada por Leolinda de Figueiredo Daltro, uma
professora que passou a reunir-se com outras mulheres para defender a
emancipação feminina. Uma das causas defendidas por ela foi a conquista do voto
pelas mulheres, e, para alcançar esse objetivo, ela decidiu fundar, em 1910,
o Partido Republicano Feminino.
A atuação de Leolinda Daltro
pelo sufrágio feminino convenceu o deputado Maurício Lacerda a apresentar um
projeto em defesa do direito das mulheres votarem. O projeto foi analisado, mas
uma comissão formada decidiu arquivá-lo, e, novamente, a causa do sufrágio
feminino foi deixada de lado.
Bertha Lutz (usando óculos
escuros) foi uma das grandes expoentes do movimento sufragista no Brasil.
Na década de 1920, um dos
grupos mais importantes na causa sufragista foi criado: a Liga pela
Emancipação Intelectual da Mulher (LEIM), associação que passou a
chamar-se Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922. Essa
associação lutava pela equiparação de direitos, o que incluía o sufrágio
feminino. O grande nome da federação foi Bertha Lutz, uma das
feministas brasileiras mais conhecidas do começo do século XX.
Mulheres pioneiras
No final da década de
1920, grandes avanços na causa sufragista aconteceram. As mulheres ainda não
tinham direito de votar por uma lei federal, mas o voto feminino avançou em um
estado brasileiro, sinal de que tinha cada vez mais legitimidade perante a
sociedade. Além disso, uma mulher ocupou um cargo político pela primeira vez em
nosso país.
Em 25 de outubro de 1927, foi
aprovada a lei estadual nº 660, no estado do Rio Grande do Norte.
Essa lei, que só vigorava no território potiguar, determinava que as mulheres
teriam direito ao voto. Esse fato representou um grande avanço para a causa
sufragista, e uma grande divulgação da lei aconteceu com o objetivo de promover
a causa nacionalmente. A primeira mulher que se alistou nesse estado foi a
professora Celina Guimarães, na cidade de Mossoró.
O Rio Grande do Norte também
foi pioneiro em outro fato: em uma cidade desse estado, a primeira mulher tomou
posse de um cargo político eletivo. Isso se deu em 1928, quando Alzira Soriano venceu
a eleição para a prefeitura de Lages. Ela recebeu 60% dos votos e foi
empossada como prefeita da cidade potiguar em 1º de janeiro de 1929.
Sua gestão ficou conhecida
pelo desenvolvimento de obras de infraestrutura, como a construção de estradas
e escolas e melhorias no sistema de iluminação pública. O mandato de Alzira, no
entanto, não foi longo. Ela foi afastada da prefeitura após a Revolução de
1930, pois não concordava com o movimento que levou Vargas à presidência.
Código Eleitoral
Foi durante a presidência
de Getúlio Vargas que as mulheres, finalmente, tiveram seu direito ao voto
garantido. A plataforma que levou Vargas ao poder tinha na reforma do
Sistema Eleitoral uma de suas prioridades, e a reforma desse sistema
também era fundamental para que o presidente conseguisse enfraquecer a
oligarquias.
Pouco mais de um ano da subida
de Vargas à presidência, foi anunciado o decreto nº 21.076. Esse decreto
foi emitido no dia 24 de fevereiro de 1932 e ficou conhecido como Código Eleitoral,
estabelecendo uma padronização para o Sistema Eleitoral de nosso país. Por meio
dele, as restrições de gênero ao voto foram abolidas. Com isso, as
mulheres brasileiras tornaram-se aptas a alistarem-se eleitoralmente.
O Brasil foi o primeiro
país da América Latina a permitir o voto feminino. Os critérios para que as
mulheres pudessem votar eram: ter mais de 21 anos e ser alfabetizadas. Em 1934,
o voto feminino tornou-se um direito constitucional, uma vez que foi incluído
na Constituição de 1934.
Nos dias atuais, as mulheres
têm seu direito ao voto assegurado pela Constituição Cidadã, promulgada em
1988. O Sistema Eleitoral atual do Brasil é o mais democrático de nossa
história, uma vez que permite que todos os cidadãos maiores de 16 anos possam
votar. A conquista do voto feminino é celebrada atualmente por meio de uma data
comemorativa: o Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil, comemorado no
dia 24 de fevereiro.
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